NOVO ESTÁDIO DO CAFÉ

Localização Londrina, Paraná, Brasil

Área 40,000 m2

Ano do projeto 2023

Ilustrações Antonio Dias Junior

Coordenação 
Antonio Dias Junior

Equipe Wellington Nicastro, Rhawandry Elias, Victória Favarão, Matheus Araújo e Amilton Lucas.

Texto Caio Risso

Quem pode mudar a cidade? É evidente que os moradores de grandes centros possuem de alguma forma o poder para mudar as cidades.

Por um lado, a figura do arquiteto tem o conhecimento para atuar em diversas escalas do desenvolvimento da cidade, como: Desenvolver edificações com programas distintos, que compõem e definem o espaço urbano, como; escolas, igrejas, hospitais, residências, prédios ou até projetos em escalas maiores como o planejamento urbano e estratégico para bairros e cidades inteiras. Entretanto, os arquitetos quase nunca se colocam no papel de líder das transformações urbanas, permanecendo como espectadores, enquanto outros agentes, com menos entendimento das dinâmicas urbanas, assumem esse papel.

O arquiteto não precisa se limitar a pensar os edifícios de maneira isolada, ele pode ir além e deve ajudar a pensar a cidade. Utilizar seus saberes para ser um articulador da transformação urbana, identificando problemáticas na cidade e propondo soluções que vão além de obras construídas, transversalizando em propostas capazes de unir diversos agentes do desenvolvimento urbano, como cidadãos, políticos, empresários, construtores etc. É com esse ímpeto articulador da cidade que buscamos investigar maneiras de transformá-la.

É com esse viés, de se posicionar como um pensador da cidade, que o escritório decide ajudar a pensar seu próprio contexto urbano, a cidade de Londrina. Londrina é um grande canteiro de obras, com diversas edificações, de diferentes escalas, sendo construídas todos os dias. Em contrapartida a essas edificações novas, diversas estruturas que também têm um impacto na cidade e uma relação histórica com o município, estão paradas e semiabandonadas. Assim, decidimos não propor algo do zero, mas partir de uma discussão em cima de uma estrutura pré-existente, que tenha relação com a história da cidade e esteja necessitando de intervenção. Com esses contextos postos a mesa, o escritório se pergunta, qual estrutura existente precisa de intervenção e pode impactar o contexto urbano de londrina?

Dentre diversas estruturas que precisam de um olhar contemporâneo, o complexo esportivo de Londrina é uma delas. Esse conjunto contempla o Estádio do Café, construído em 1976, o Autódromo internacional Ayrton Senna 1992, um kartódromo 1992, pista de ciclismo 1993 e uma praça de esportes 2013. Algumas dessas estruturas do complexo estão em funcionamento, mas a qualidade de todo o complexo está bem aquém das demandas e padrões contemporâneos.

O Estádio, com a sua inserção no topo do talude e seu formato em semicírculo aberto para o centro, pode ser notado de inúmeras regiões da cidade, seus holofotes acesos anunciam para cidade que “hoje é dia de jogo”, seu campo já foi palco de grandes momentos do futebol e de eventos importantes, mas hoje, sua estrutura está longe de um estádio de alto nível, seja para receber jogos como para receber eventos de grande escala.

Assim, dentro de todas as estruturas do complexo, o Estádio do Café é o mais singular, não apenas pela escala, mas também pela história e pela possibilidade de vir a se tornar algo maior. O escritório decide abraçar o Cafézão - como os frequentadores chamam - para propor uma discussão em forma de projeto, que coloque esse ícone de volta aos debates contemporâneos sobre cidade, que a estrutura do estádio seja reinventada e assim possa se transformar em um catalisador para desenvolvimento da cidade.

O Estádio repousa sobre uma colina em seu formato semi circular, que se abre para o centro da cidade, e seus holofotes, quando ligados, anunciam o dia de jogo. Essas são fortes premissas que marcam o estádio e como queremos olhar para o futuro e não esquecer do passado, a proposta deve partir de um diálogo entre o que é o estádio e do que pode vir a ser. Queremos manter o destaque que o edifício tem no topo do talude, para isso, mantemos a configuração espacial, com o gramado ao centro e arquibancada em meia-lua voltada para cidade. Em seguida, implantamos uma nova cobertura, agora em formato oval, que circunda todo o perímetro do campo e ajudará a organizar o programa. Ao Norte, a cobertura protege os torcedores dos intemperes, enquanto ao sul, os esbeltos pilares metálicos duplos sustentam a cobertura e permitem que a belíssima vista para o centro seja mantida. A matéria que cobre as pessoas é uma tela tensionada, que assim como os antigos holofotes, ao acender se transforma em uma grande lanterna, que irá anunciar não só os eventos a cidade, mas anunciar um novo momento para o estádio do café.

Sob o enquadramento que a cobertura cria do centro da cidade, uma grande praça voltada para a rua é criada. A praça organiza o acesso em duas partes: na parte inferior fica o acesso dos jogadores e serviço; e no nível da praça, o acesso dos torcedores. Enterrado sob a praça ficam os programas de serviço, e junto a isso, sua programática é expandida para permitir que o estádio esteja nos padrões atuais de um estádio de alto nível. No nível inferior foram inseridos novos vestuários para cada time com: salas de massagem, hidro, banheiros maiores, imprensa e treinador, todos esses ambientes dão acesso a zona mista que leva ao gramado. Ainda no nível enterrado foram posicionados: as salas para emissoras de TV, coletiva de imprensa, enfermaria, recepção médica e áreas técnicas como oficina e depósito. A parte superior da a praça convida as pessoas a permanecerem ou entrarem pelas novas bilheterias dos portões A e B.

Os acessos no topo da colina, chamados de C e D, continuam para manter a emblemática entrada superior. A altura da cobertura é elevada não só para permitir a vista e proteger as pessoas, mas para criar espaço para os volumes suspensos dos novos camarotes. Sob a cobertura, também estão os volumes dos novos bares e banheiros que foram ampliados para receber um maior público e agora, os bares ficam recuados da borda da arquibancada e voltados ao gramado, permitindo que quem está comprando comida e bebida ou indo e voltando do banheiro possa ter acesso visual ao campo. O concreto da arquibancada dá lugar a cadeiras, que em tons de azul homenageiam o time da cidade.

Queremos que através do nosso papel, como articuladores da cidade, lançar essa proposta do estádio, não com a intenção de ter um caráter definitivo, mas com uma postura aberta ao que a cidade tem a dizer e latente pela mudança. Queremos que essa ideia possa ser um pontapé inicial para um diálogo entre o estádio, o time, a população e a prefeitura. Assim o projeto para novo estádio do café, busca através de intervenções pontuais, trazer sobre a luz de seus holofotes a discussão sobre uma estrutura a tempos apagada.